segunda-feira, 18 de setembro de 2017

TAQUICARDIA



Ela podia sentir seus batimentos cardíacos. Não, ela não era médica, nem enfermeira; era apenas uma moça sensível, que sentara ao lado daquele quase estranho, em uma manhã ensolarada. O pior é que ele não percebera que ela o sentira. Ele achava que era privilégio apenas seu, o ato de sentir. Por alguns instantes ficara imóvel, como uma coruja na madrugada.

Eles não se falaram, apenas sentiam-se mutuamente e em pleno silêncio interior. Ele não sabia lidar com a mudez das palavras e as vezes falava algo, para quebrar o constrangimento de apenas sentir. Ela, por sua vez, preferia fingir que nada estava acontecendo. Mas estava e era impossível negar o turbilhão de silêncios e sentimentos. Ele, impaciente, mexia os braços, mexia as pernas, mexia a retina... Sua vontade era sair o quanto antes do lado daquela que lhe causava tantas inquietudes. Mas ir pra onde? Não lhe era permitido fugir. Então sofria imóvel, quase mudo! Quase, quase...

Ela, de coração também acelerado, camuflava seus instintos, ora mexendo em papéis, ora no celular, ora boquiaberta, ora, ora... Sempre fingindo importância. Emudecida com a proximidade que nunca tiveram, por tantas horas juntos. Ali mesma, naquele banco começou a compor textos mentais. E sua mente vibrava no mesmo ritmo do seu coração, que se apressara em escrever, viver e amar.




Lilian Flores

www.contoscontidos.blogspot.com.br

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